quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

INIMIGO PÚBLICO

O dono da casa do portão enferrujado
se negava em ser benquisto
pela molecada da Rua São Francisco.
Dificilmente uma bola voltava cheia
e todas as pipas voltavam gravetos
quando caíam dentro da casa
de portão enferrujado
onde havia estacionado
uma Belina 78 marrom.
O dono da casa do portão enferrujado
odiava janeiros, domingos e feriados
e foi o primeiro inimigo público declarado
que tive notícias. 
Não vale o trago
o velho destilado de melancolia
estocado na escura adega do ser.
Não vale a ressaca
o porre de noite com recordação
servido com gelo num único copo.
Não vale o fígado
mais uma rodada de rancor barato
envelhecido num peito encostado.
Não vale o brinde
tinto vivo que irriga a saudável dor
se botar água no amor.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

* À MINHA FÊMEA

ABATE 


CORRO A LÍNGUA SOBRE SUA SELVAGERIA
ESTACIONO A BOCA NA VAGINA
E A LÍNGUA FAZ AS VEZES DO PÊNIS.
LOGO SUBO SOBRE TEU VENTRE
E TORNO-ME UM SELVAGEM MAMÍFERO.

LOGO NOS ATRACAMOS, NOS ATACAMOS, NOS CAÇAMOS...
AVANÇO EM SEU PESCOÇO
- LEÃO AGARRANDO A ZEBRA -
E ELA GEME, REAGE, RESISTE E CONSENTE,
ENJAULANDO-ME ENTRE SEUS BRAÇOS E PERNAS,
ASSISTINDO O ANIMAL OFEGAR
OFEGAR E PRODUZIR
SEU PRÓPRIO ENTORPECENTE.

DE REPENTE, A FERA CAI LATERALMENTE
ABATIDA PELA PRESA
A LHE AFAGAR A JUBA
CRAVANDO OS OLHOS EM SUA JUGULAR.

sábado, 7 de dezembro de 2013

.........................

Bueiro evacuando ratos
Trem espremendo periferia
Botecos mijando cardíacos
Puteiros ejaculando maridos

Ambulâncias cuspindo parentes
Colégios parindo passado
Fábricas suando soldados
Prédios sangrando depressivos.

Ruas entupindo avenidas
Avenidas coagulando horas
Praças peidando pombas,

Viadutos mastigando mendigos
Esquinas delirando matilhas
Cidade contraindo desolação.

dezembro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

UMA RAPIDINHA

Saliva e sêmen bandeirante
Suor e sangue imigrante
Sampa fumegante
Fulminante senhora
Infarto infante 

Da Augusta à Aurora.

DIÁLOGO RENTE UMA LÁPIDE

Ao distinto defunto aqui calado pelo vento,
Venho primeiro cumprimentá-lo,
Já que nunca o fiz quando daqui estava fora,
Embora, agora, debaixo dessas flores garridas,
Tal gesto ganhe a dimensão de ressurreição
- da sua parte - e internação - da minha;
Segundo, venho pedir-lhe um obséquio:

Pergunte a Deus, quando houver possibilidade, é claro,
“ Por que os pecados não vão, junto com os vermes,
Com a carne sem cor e o sangue ressequido?”

De certo, se pergunta:

Por que não vais tu perguntar a Ele
Na tua vez, ao invés do meu sono
Interromper com tamanho grilo?

Caríssimo distinto defunto debaixo dessas flores garridas,
Como posso se, tal qual a vontade de pecar,

É a vontade de não morrer?

                                                            02/09/2008

POEMETO ESTICADO

Quero-quero
No gramado
Quase nunca é driblado,
Quase sempre espantado
Pelo passe errado.
Quero-quero
Veio ver canarinho voar.
Quero-quero voa.

Relo-relo
Na pipa amarela
Que vira folha amarela,
Peixinho com anzol na goela
No céu cor de mar.
Relo-relo
Na pipa perseguida
Por um milagre de meninos.
    
Lero-lero
Do menino caramelo
Que queria ser belo-belo
E vê virar bolero
Seu elo com Daniela.
Lero-lero
Do menino caramelo
Que, sem a Dani, se danou.

Mero-mero
Muito pouco espero.
Espero um beijo mero,
Um mero olhar espero
Capaz de me alavancar.
Mero-mero...
Sou um mero poeta
Ou um poeta de merda?

Zero a zero.
Sou meramente um Nero
-se duvidas, dê-me um império;
O caramelo
Que atacava não saiu do zero;
O peixinho amarelo
Que voava tomou um relo;
O quero-quero
Que torcia levou o amarelo;
O canarinho
Que voava tomou o vermelho.

Vero-vero...
Como o tempo é severo.


                                               21/12/09

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O CINTURÃO


Com cruzados de direita,
O pugilista porto-riquenho
Esmaga moscas
Esmigalha bocas
E vê seu sangue latino,
A dólar, cotado.

   

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Soneto Sem Título

Vasculho no bolso centavos pra viagem,
Viagem esta que não vale um centavo
E, ao meu lado, um velho com bagagem
Carrega dores, fobias e o peito entrevado.

Não que eu ainda esteja no páreo,
Que eu seja azarão, garanhão ou pária...
Gastar o pulmão na pista dum jóquei
Não freia a velhice nos seios da tara.

Espantalhos desdentados me pedem moedas.
Fedores e ferimentos... Sóbrios às vezes...
Onde estão os donos dessas fezes?

Há mais doentes e pobres do que poetas.
Mais cardíacos do que cavalos
E mais fezes humanas do que ratos.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um Dia Na Semana



Abelhas sobrevoam
a cana moída
Cachorro late e morde
as bolas de sabão
Menino pede pastel de carne
A mãe finge falha na audição
Indiozinhos pegam goiabas
e batem em retirada
Moscas escoltam
a banca fedida.



São Paulo, 11 de setembro de 2013

quinta-feira, 25 de julho de 2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

PÚBERE CANÇÃO


UMA JAM (AMOR INSTRUMENTAL)



SEU CORAÇÃO FEZ TON-TON
E FICOU SURDO AO VER
OS CABELOS COR DE PRATO PERCURTIREM,
CONDUZINDO-O, DE OLHOS FECHADOS,
A SOLAR BUMBOS E GONGOS.

ELA CONTINUAVA VIOLINA
NUMA PAZ DE LIRA... NUM ZEN DE CÍTARA
FALANDO FEITO UM STEINWAY,
MOÇA DO CORPO BOSSA,
NO OLHAR MI, SOL... LÁ...

ELE A AMOU DESDE O MOMENTO
QUE SEUS TÍMPANOS VIBRARAM,
DESDE O MOMENTO QUE TAMBORES TROVOARAM.
ELA O AMOU COMO GUITARRA LEVANDO CHOQUE,
COMO O VENTO AMANDO A FLAUTA.
ELA O AMA, POIS O AMOR É PARTITURA,
ELE A AMA COMO UM AUTODIDATA.

ELE SE DECLARA FEITO CONTRABAIXO
E AO ESCUTAR A DOCE RESPOSTA,
SOLTA UM SORRISO SOPRANO
E, NUM BEIJO GRAVE,
DEIXA A TARDE BACHIANA
E O HEAVY BAQUEADO.

quinta-feira, 27 de junho de 2013


TERCEIRA GUERRA MUNDIAL



A matilha desembainha os dentes
a matilha me aponta os dentes
a matilha late uma canção de guerra
a matilha dói na imaginação
o bafo quente da matilha dá calafrios...
Imagino o quanto de sabão não daria a matilha...

Escuto latidos em plena madrugada.

Sorriu deleitando a imagem da matilha
em disparada com o rabo entre as pernas.
Sorriu sonhando com a minha imagem
disparando pedras e mostrando os dentes.
Escuto latidos em plena matina.

Não houve carnificina.
YELLOW HOT-DOG




Um sol de rachar
Sol beirando o meio-dia
De um domingo de sol
Um sol para todos
Se concentra no cara fantasiado de cachorro amarelo
Que acena e distribui pirulitos
Em frente a uma loja de brinquedos.

O cachorro amarelo acenando ri
Enquanto o cara fantasiado bota a língua pra fora
Suando tudo que um domingo de sol suaria
Dentro de uma carcaça de espuma,
Se coçando em lã de vidro...
O cachorro amarelo continua acenando
E não saí atrás dos carros aos latidos,
Já o cara fantasiado fantasia um importado conversível.

O cachorro amarelo segue acenando,
Parece atuar num Magical Mystery Tour,
Já seu interior continua a cozinhar
E espumar contra o trabalho, o patrão, o sol...
O cara fantasiado vê os pais passarem feito donos
O cachorro amarelo abana o rabo e dá cambalhotas.

O sol não perdoa
O serviço não perdoa
As crianças não perdoam e pedem pirulitos
E o cachorro amarelo prossegue o aceno
Enquanto o cara fantasiado rosna abafado
Suando água de salsicha.
O cachorro amarelo segue amistoso,
Já o cara fantasiado já é cachorro louco.

O sol segue rachando
As crianças seguem rachando
Os pais e quem passa se racham
E o cachorro amarelo segue acenando
Até o cara fantasiado rachar e virar sabão.

De repente, o homem cessa o aceno
E o cachorro amarelo vai ao poste, obsceno.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Convite informal e inaugural da Albergaria de Pipas, com novidades diárias, semanais, quinzenais ou bimestrais, dependendo do humor seminal deste que vos encaminha ......... atalho para albergar. Pretendo o quanto antes dividir a administração do local com outros alberguistas, pois os objetivo é tão somente deixar rastros, como namorados pondo corações em tronco de árvore, passeios veraneios na orla entardecida, declarações quentes no cimento fresco; lençóis amarfanhados, banheiro esfumaçado, espelho embaçado com um nome molhado; o vinho que fica mais tinto quando bebido no seio amado; cigarro amornando no cinzeiro de bronze, iodo arroxeando a rubra recém ferida; a vida inaugurada com dor, choro e o sorriso da gestora; fragmentos inesquecíveis por tão fragmentados; gritos eufóricos, infantes instantes de Super-Homens, brindes insanos de conquistas sem romanos; fotografias, cartas (não de todo extintas);poemas em guardanapos, músicas dedicadas; filmes encenados, cenários bairristas que, por um instante, poderiam ser Gaudí ou Niemeyer manipulando Legos... Enfim...

Vento Chuva Céu Cerol

Manipula o menino o anzol
para rapinar o peixinho no céu
enquanto ainda é azul do mar
enquanto o vento - ainda sangue -
não trás nuvens de chumbo,
pesados tanques
para conter a manifesta invasão
de tantos losangos 
tantos Arlequins
tantos moleques
que soltam papagaios
que soltam arraias
que soltam os olhos
e só nos olhos soltos
dos soltos infantes,
Peter Pans delirantes,
cabem céu e mar. 

"S.f Casa de hospedagem, pousada onde se pode comer, beber, dormir, pagando; albergue, estalagem,asilo.
Bras. Asilo onde os mendigos se recolhem à noite."
Esse espaço destina-se ao alojamento de textos artísticos e informativos, fotografia, artes plásticas, artes sonoras, cinematográficas, mídias atuais, colagens, gambiarras e afins; filosofias disfarçadas, experiências abnegadas, empirismo puro ou necessário; troca de lâmpadas e martelos, troca de fome e exaustão, de queda e ascensão, espaço transitório, para se passar a noite, para se deixar após o desjejum. Enfim, boa hospedagem