quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O PAI DOS PASSARINHOS

Não sei trinar,
Apenas canto as músicas
Que o rádio cantava
Quando o senhor estava em casa
E eu, no quarto, me trancava.

Não sei voar,
Apenas alço poéticas
Que migram pra cá
Desde que, trancado,
Eu ensaio escapar.

Não sou pássaro engaiolado
Que come na sua mão
E trina alucinado
Ao ouvi-lo assobiar uma canção.

Com comovido carinho,
O senhor interage com o corrupião
Chamando-o de filho
Enquanto troca sua água.

Talvez por desobedecer
A gaiola e sua legislação
E assobiar outras aves e canções,
Tenha eu sido deserdado

Do seu peito, do seu abraço
E, embora alado, eu permaneça
Fora da gaiola que aprisiona 
Você e seus pássaros: teu coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário