terça-feira, 7 de novembro de 2017

MAR MANSO

ESPUMANTE MAR
LANÇA SIRIS ÀS GAIVOTAS
NORDESTINO SOL
CURTE MEU CORPO
DEIXANDO-ME CURTIDO
ESTOURANDO MEUS POROS
QUE JORRAM
UM BANHO DE ESPUMANTE
E ASSIM, TRIUNFANTE,
ENCARO O MAR
DE PEITO ABERTO
PARA QUE PREENCHA MEU CORAÇÃO
FEITO OS BARCOS AFUNDADOS
EM SUA IMENSIDÃO.

NO MAR MANSO
BOIO A DERIVA,
ME ABANDONO:
BARCO DESAMARRADO DA TERRA.
PORÉM, MEU CORAÇÃO GRITA:
- MORTE À VISTA!

RETORNO COM AS ONDAS
COMO SIRIS LANÇADOS À PRÓPRIA SORTE,
OS OUVIDOS FEITO CONCHAS
COM O MAR ME ENCHENDO: COVARDE!

quarta-feira, 24 de maio de 2017

POEMA DE FERIADO *

Meninos formigam a rua com o futebol:
dedões descalços no capotão em fim de carreira
Faça chuva faça sol
meninos formigam o feriado com o futebol.
À direita da janela,
convidados sentados na calçada conversam feito figurantes,
eloquentes alto-falantes.
À direita da janela,
figurantes conversam decorando copos descartáveis nas destras.

Liberdade ainda que tardia.
Tiradentes tira a pressão da terça-feira apressada ainda.
Faça Sul faça Norte,
meninos suam chuva,
fominha nega tabelinha,
a chuva joga no gol e na linha
faça chuva faça gol

todo menino quer ser Pelé,
não Joaquim José da Silva Xavier

Figurantes passam suas falas
sem um pingo de Inconfidência.
O fominha não passa,
a chuva não passa,
o sol passa sem ter passado por aqui
e Tiradentes não passa dum feriado,
faça chuva faça sol.





* poema publicado originalmente no site GARGANTA DA SERPENTE
http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/leonardopraciano.php?poema=2

sexta-feira, 12 de maio de 2017

SOUNDS OF THE NIGHT

*

Ah... Os sons da noite.
O carro em alta velocidade e sonoridade que em nada pensa ao seu redor.

Os passos cansados de trabalhadores com destino ao seu lar e cama,
fatigados pelas horas e horas de trabalho.

Os beijos e abraços de despedida de amantes que a muito custo desgrudam-se lenta e risonhamente.

O balançar das folhas quando o vento bate e estremece altos galhos,
trazendo zumbidos arrepiantes.

Ouso dizer que ouço o som da nuvem que encobre a lua a clamar pelo brilho do Sol,
noutro lado, noutros continentes e que anseia por anos a fio o reencontro em forma de eclipse.

Ouço um coração descompensado e descompassado
num tum tum tum sôfrego e atrevido
insistente em avivar um corpo já dormente.


ML VOQUEVANTEL

* poema de MARTINE LINN VOQUEVANTEL

terça-feira, 9 de maio de 2017

OLD YEARS ( POEM BY MARTINE LINNE VOQUEVANTEL)

DEDICO ESSA PUBLICAÇÃO À MINHA VELHA AMIGA TÃO INESQUECÍVEL E BEMQUISTA QUE PRESTIGIA ESTÁ ALBERGARIA COM UMA DE SUAS PIPAS,
REBUSCANDO ESTE LOCAL COM SUA LÍRICA PEGADA PECULIAR, AJUDANDO
O ZELADOR AQUI A MANTER AS COISAS EM SUA DESORDEM SUPRA-NECES
SÁRIA.


VIVE MARTINE LINNE VOQUEVANTEL!




OLD YEARS


Anos de solidão, a um, a dois, a centenas, 
onde nada pode acalmar o sentimento perdido.

Anos de sofreguidão por ternura, por alento,
por olhares e arrepios na pele.

Anos de marasmo, de viver o mais do mesmo,
de sair e voltar e sempre achar que não fora a nenhum lugar.

Anos de amargura, de esconder-se à sombra d’alma alegre,
 onde na verdade vive uma escura.

Anos de... nem sei mais o que, de se ir e vir, de ficar e nunca partir, 
de não ser o que se é e não viver.

Anos se foram. Perdidos para sempre, 
em recordações nem tristes, nem felizes, 
apenas serpenteando o tempo com o cordão das horas. 
Com o tic-tac das batidas num suspiro pesado de cuco velho e esquecido.


martine linne voquevantel

segunda-feira, 8 de maio de 2017

QUANDO GAIVOTAS



HAVIA FRIO, UM RELENTO NAS ENTRANHAS
E A PALAVRA QUE SOOU LHE ESTRANHA 
LACIOU SEU CORPO TÉPIDO E FORAGIDO
E NOS REVELAMOS ENTRE BEIJOS ESCONDIDOS
PORQUE  AMANHECER ERA PROIBIDO
PORQUE  PECAR ERA PERMANECER VIVO
E NOSSO PECADO LEVEI NAS COSTAS
E SUA ROSA LEVEI NA BOCA
BÊBADO DE PALAVRAS LANCINANTES.


NOSSA JUVENTUDE FERVIA NAS VEIAS
FALÁVAMOS DA VIDA
E NEM CHEGÁVAMOS A OUVÍ-LA.
VOCÊ, ÀS VEZES CANSADA,
DE DATILOGRAFAR, DEPOIS DIGITAR,
PREFERINDO ROMANCES A EQUAÇÕES,
DECIDIDA COM UNHAS E DENTES
NUM SELVAGEM VESTIDO NEGRO
ERA FERA SUBJUGANDO O CAÇADOR.  


MINHA AMIGA, DEVÍAMOS TER IDO PRO MAR
MISTURAR NOSSAS PEGADAS COM AS DA GAIVOTAS
APROVEITAR A BRISA E JOGAR PALAVRAS
COMO SONHO, LANCINANTE, AMOR...
PALAVRAS PARA EMPURRAR AS VELAS
PALAVRAS PARA ESPALHAR AREIA
PALAVRAS JORRANDO DOS CORTES
QUE SUAS UNHAS TATUARAM EM MIM
QUANDO ESTÁVAMOS À MERCÊ DA POESIA.


EMBORA NUM VAI-E-VEM,
O MAR NÃO APAGOU NOSSAS PEGADAS
MISTURADAS COM AS PEGADAS
DAS GAIVOTAS QUE, QUANDO VOAM,
SÃO FOLHAS ESCRITAS DE AMOR
FEITO NÓS QUANDO FOMOS NÓS.
REGRESSEMOS LOGO PRO MAR
PARA LERMOS AS GAIVOTAS
QUE LERAM NOSSAS PEGADAS.










PARA UMA POESIA QUE CONHECI






 

sexta-feira, 5 de maio de 2017

POEMA AMARELANDO

SUSSURRO AMOR NO TEU OUVIDO
ESMURRO TERROR SEM DAR GRITO
ESPORRO POESIA BEM NA SUA CARA
E AINDA SIM, SEREI APENAS MAIS UM


ALGUMAS FLORES AZEDAM SEU MEL,
ALGUNS POEMAS NÃO CHEGAM AO PAPEL
E UM POETA MORRE
A CADA MIL PÁGINAS EM BRANCO POR AÍ.


MUITAS VIDAS NÃO SERÃO LEMBRADAS
MUITAS VIDAS NÃO PASSAM DE RAÍZES
E CAVALOS MARCHANDO EM AVENIDAS
ARREPIAM CRIANÇAS E VIOLÕES ARREDIOS.


ALGUNS AMORES NÃO DÃO FRUTOS,
ALGUNS DISCURSOS NÃO INCENDEIAM.
HÁ PALHAÇOS QUE NÃO DÃO PIADA
E HÁ CÃES QUE NÃO LATEM APENAS.


O CARBONO DEIXA ROXO A PÁGINA,
DEIXA TAMBÉM A PALMA DA SUA MÃO
COMO SE ESCREVER DEIXASSE HEMATOMA...
PERMANECE A PLATEIA EM COMA.


A CANETA  FERINDO O PAPEL,
A FACA IMOLANDO O PÃO,
O VENTO SECANDO A DOR
E O MAR AMOLECENDO AS ROCHAS


PODERIA EU FAZER ISSO E TIRAR UM TROCADO


PORÉM, TEMO SER AMARELADO PELO TEMPO,
SER EMPILHADO ENTRE OUTROS AMARELOS,
INDIGENTE NUM SEBO ENTERRADO
E TANTAS PÁGINAS EM BRANCO POR AÍ. 


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

AMOR, NÃO NOS DEIXE ENVELHECER


 Amor, não me deixe envelhecer

Amarelar as plantas, a manhã maldizer

Seja minha tutora, meu cão-guia

Meu mandamento, minha maestria

 

Amor, não me deixe envelhecer

A macieira carregada para apodrecer

Rio que produz peixes e banhos

Seca secura que devora rebanhos.

 

Amor, não me deixe envelhecer

Esquecer datas, a boca escurecer

Sentir frio mesmo te abraçando

E cheirar à morte mesmo pulsando

 

Amor, não me deixe envelhecer

Na velhice, o amor deve obedecer

Falar baixo, desligar a música,

Dormir cedo, amar às escuras

 

Amor, não me deixe envelhecer

Entrevados ossos para o Nada roer

Seja meu sangue pegando fogo

Quando nas veias ele for cavalo

Disparado no meu corpo dilatado

Por você ter beijado meu rogo.